segunda-feira, 3 de maio de 2010

Marília Ruiz: Ganso está pronto para a Copa

“Não, eu não vou sair. Eu vou ficar aqui.” Paulo Henrique Ganso tem 21 anos e até ali não tinha nenhum título no currículo de jogador profissional. “Ali” é o seguinte momento: 38 minutos do segundo tempo; o Santos perdia por 3 a 2; o Santos tinha só oito jogadores em campo; o Santos sofria pressão do Ramalhão; e alguém de 21 anos peitou o chefe que iria tirá-lo depois de mais uma expulsão.
Pois “ali” ele chamou a responsabilidade e ficou. “Eu sabia que eu podia segurar a bola ali na frente. Eu fiz isso e o título veio. Agora a gente precisa comemorar bastante porque merecemos esse campeonato desde o começo.”
A declaração de um menino que foi o homem do jogo é ótima: não, não é desrespeitosa; não, não é pedante; não é quebra de hierarquia (ah, tem dirigente que já ia pensar em suspender e dar multinha...).
“Ele era o único que estava fazendo isso, pisando na bola, segurando o jogo. (Dizer que não sairia) Foi uma atitude de homem. Não foi menosprezo, não foi desrespeito.. Foi coisa de homem que deve ser valorizado.”
Quem achou isso? O “desrespeitado” Dorival Júnior, que foi mal nas finais (tomou um baile do rival Sérgio Soares), que foi mal nas substituições, mas que foi muito homem para admitir sua fraqueza, foi muito homem de voltar atrás, foi muito homem de deixar quem estava brilhando brilhar mais do que ele.
Quem brilhou mais? Paulo Henrique Ganso, o melhor “técnico” das finais, a revelação e o craque do Paulista-10. “Não sei se uma partida como essa me leva para a Copa, mas espero que o Dunga esteja vendo. Mesmo que eu não vá, vou torcer muito pelo Brasil, que tem o melhor time do mundo.”
Parabéns, Ganso! Parabéns, santistas!
Leva o Ganso, Dunga!

Uma semana: é o que falta para nós conhecermos os 23 representantes da paixão de 190 milhões. Será que Ganso estará na lista? E Neymar?
Dunga está recluso. Sair de casa? Só para prestar queixa na delegacia e para compromissos particulares.
Até Jorginho aparece. Aparece em treino, aparece em jogo. Enfim, é visto se ocupando de futebol - que é do que se trata aqui, da “pessoa jurídica” dos homens que vão comandar a Seleção na África do Sul.
E a Seleção não é deles. Pode até parecer que é, já que gera milhões e milhões para uma entidade particular, mas não, não é. Há até um projeto para formalizar o que já é tácito: o PL 1429/07 do deputado Silvio Torres (PSDB-SP) que torna a Seleção Brasileira de FUTEBOL patrimônio cultural, dada sua importância histórica e social para a população.
Todo mundo se acha dono da Seleção – e todo mundo deve mesmo se achar. Todo mundo dá palpite. Todo mundo assiste aos jogos e faz as suas apostas, tem seus favoritos, faz suas listinhas. Qualquer que seja o próprio time, o brasileiro “sabe”, “vê”, “acompanha” o terreno alheio.
Jogos emocionantes, decisivos e recheados de jogadores “convocáveis” pululam pelos estádios do Brasil e da Europa: mas não se vê o nosso treinador por lá. Por quê?
Claro que eu sei (e quero acreditar) que ele deve estar vendo jogos pela TV, VTs dos adversários, analisando tabela e criando táticas inéditas e revolucionárias para conquistar o hexa no dia 11 de julho.
Mas por que não fazer também o dever na “sala de aula”? Por que essa fobia de estádio? A pressão, as gracinhas, os pedidos dos torcedores e o assédio da imprensa incomodam??? Mas ele sabia disso quando aceitou ser técnico (sem nunca antes ter sido) da maior Seleção do mundo, não?
Perguntar não ofende, certo?
Surpresa?
“Recebi alguns relatórios sobre estádios e não está nada bom. É incrível como o Brasil está atrasado, e não estou falando apenas de Morumbi ou Maracanã, mas de todos os estádios”, disse Jerome Valcke, secretário-geral da Fifa, ontem. Ontem que era a data-limite para o início das obras para a Copa-14… Prazo? No Brasil? Atraso???? Jura? Sério? Chocada…
mariliaruiz@yahoo.com.br / twitter: @mariliaruiz