domingo, 23 de junho de 2013

MUITO ALÉM DE UM TAPETE VOADOR


O iraniano “A separação” é daqueles filmes capazes de quebrar os preconceitos mais solidificados. Esqueçam armas nucleares, tapetes voadores e o Ahmadinejad: o filme de Ashgar Farhadi é uma obra de arte triste e delicada. Tenho certos preconceitos cinematográficos. Acredito que todos têm. Alguns são bons em disfarçar, outros deixam claro quais são. Pertenço ao segundo grupo. Porém, meu desgosto por certos filmes não me impede de vê-los. Em cinema, poucas coisas me deixam tão felizes quanto descobrir que estava errado sobre determinado artista, seja cineasta, roteirista ou ator. Quase sempre, odeio filmes asiáticos, por exemplo. Não tenho a menor paciência para filmes japoneses e chineses, principalmente. Até gostava de ver uns samurais quando era criança. Akira (Katsuhiro Otomo, 1988), por exemplo. A animação baseada no mangá de mesmo nome foi especial pra mim. Cheguei a ganhar a fita (VHS ainda, anos 1990) de presente da locadora por ter alugado 64 vezes no mesmo ano. Mas tudo isso passou quando cresci. O que não me impede, no entanto, de assistir a cada novo filme do Zhang Yimou na tentativa de descobrir que sempre estive errado. Outro alvo do meu desgosto sempre foram os filmes iranianos. Ao longo do tempo passado na faculdade e nas mostras de cinema, sempre tive a impressão de que todo filme iraniano tem um tapete voador ou uma criança que perdeu um sapato. Que fique claro: acho a cultura persa uma das coisas mais interessantes que existem, o farsi um idioma sonoramente agradável e o povo iraniano de uma beleza exótica. Meu problema sempre foi com a cinematografia iraniana. Acontece que tudo que pensava sobre o cinema iraniano foi por água abaixo assistindo ao vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (2011) “A separação” (“Jodaeiye Nader az Simin”, no original), de Ashgar Farhadi.

Passeatas no Brasil


É bonito de ver, tantas e tantas pessoas pelas ruas das principais cidades do pais. Enfim o povo acordou, o grande gigante despertou, as ruas foram tomadas pela força do povo. Eu minimamente intelectualizado não poderia ficar fora dessa. Há anos que não tenho a oportunidade de sair às ruas, já estava com saudades das diretas já. Bom, é hora de por o pé na estrada (ou melhor na rua), um tênis confortável, boné, óculos escuros e uma bandeira do Brasil. Agora sim, antes de sair um beijo na mulher e um discurso para que ela não se preocupe, estou cumprindo minha missão como cidadão. Uma pergunta antes de sair me deixa confuso, passeata para o que? Como para o que, o povo esta nas ruas, se rebelaram contra o aumento de 0,20 da passagem de ônibus! Você não viu? Mas isso já foi resolvido, o aumento foi cancelado, e além do mais você não anda de ônibus! De fato o aumento não saiu, e o povo continua nas ruas descobriu sua força, mas afinal qual a razão do povo continuar nas ruas? Bom razões não faltam, a violência é absurda, todos tem medo de andar nas ruas. Os hospitais são uma vergonha, temos direito a saúde minimamente razoável; temos direito a educação pública de qualidade; os dentistas tem direito de não serem queimados e os que podem tem o direito de jantar num restaurante sem ser assaltado. Como se ve, razões não faltam para passeatas. Poderíamos organizar uma contra a corrupção, seria bem legal. A questão não é a falta de motivos, esses, como vimos, temos de sobra. A questão é sabermos contra o que estamos nos rebelando? Do contrário tudo perde o sentido, vira bagunça, é a rebelião pela própria rebelião. A ira pela ira. E no meio disso tudo fica a policia, esses também tem razões de sobra para participar de passetas, correm um risco danado, ganham pouco e ao invés de se rebelar tem o dever de conter as passeatas. Como não são preparados para tanto o resultado é sempre ruim. Enfim, o povo esta na rua, e para lá que eu vou, se o povo se rebela não ficarei fora, estarei junto, pouco importa se ando de ônibus ou não, o importante é participar. Mas antes de sair preciso de fato saber vamos nos rebelar contra o que?