quarta-feira, 29 de março de 2017

Caixa socorreu Odebrecht no estádio do Corinthians com R$ 350 milhões


A Odebrecht fez uma transação sigilosa com a Caixa Econômica Federal em 2014 para cobrir um buraco milionário para construção da Arena do Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo. Conforme o jornal Folha de S.Paulo, o dinheiro, gasto pela empreiteira no estádio, não tem prazo para retorno. Para ajudar a Odebrecht a recuperá-lo, o banco estatal comprou debêntures (títulos de crédito lançados ao mercado para captar recursos) emitidas pela empreiteira no valor de ao menos R$ 350 milhões. Na prática, funciona como um empréstimo. A Odebrecht terá que devolver esse recurso à Caixa com juros. O ex-presidente do Corinthians e atual deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP), que participou do projeto de construção da arena, confirmou à Folha a transação, mas disse que não comentaria o negócio porque o acerto foi feito entre a Caixa e a Odebrecht, sem envolver o clube. Em 2014, a Odebrecht fez uma única emissão de debêntures, com valor próximo do socorro da Caixa, com vencimento em 2021, segundo pesquisa feita pelo jornal. A empreiteira foi contratada pelo Corinthians em 2011 para erguer o estádio. Pelo plano original, um financiamento do BNDES no valor de R$ 400 milhões seria utilizado para bancar parte da obra. O restante seria quitado com R$ 420 milhões em créditos cedidos pela Prefeitura de São Paulo – os Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs). O financiamento do BNDES, feito via Caixa, só saiu em março de 2014 e um impasse surgiu em relação aos CIDs: uma ação judicial questionou a validade do benefício municipal. Isso espantou os poucos empresários interessados em comprar os certificados, mesmo com o atrativo de descontá-los do pagamento de impostos. A Odebrecht, mesmo sem os recursos, concluiu a obra a tempo da abertura da Copa. Ou seja, com o estádio entregue e em uso, já com o dinheiro recebido do BNDES, havia ainda um buraco de R$ 420 milhões decorrente do impasse em torno das CIDs. Foi aí que a Caixa decidiu comprar os papéis da Odebrecht. Segundo a Folha, a operação foi estruturada porque a arena não tinha garantias suficientes para recorrer a outro banco. Marcelo Odebrecht, então presidente da companhia, atuou diretamente para agilizar os empréstimos e pressionou a Caixa para que o dinheiro fosse liberado com poucas garantias. O executivo está preso em Curitiba há um ano e quatro meses e foi condenado a 19 anos de prisão por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro descobertos pela Operação Lava-Jato. A reportagem da Folha procurou a Odebrecht e a Caixa Econômica Federal e enviou perguntas específicas sobre a emissão e compra das debêntures. Por meio de sua assessoria, a instituição financeira pública informou, conforme o jornal, que as operações envolvendo a Arena Corinthians são protegidas por sigilo bancário. Por isso, afirmou que não iria se manifestar sobre o caso. A assessoria de imprensa da construtora Odebrecht informou que, neste momento, não iria se pronunciar sobre a operação no estádio. A empresa e seus executivos negociam um acordo de leniência e de colaboração com a força-tarefa da Lava-Jato, que prendeu diretores e o ex-presidente da companhia.